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BCE concede mais € 529,5 bi a bancos

A liquidez realmente nova proporcionada pelo BCE representa € 310 bilhões

O Banco Central Europeu (BCE) forneceu ontem liquidez recorde de € 529,5 bilhões para 800 bancos, numa segunda rodada de apoio vital para o combalido setor bancário da zona do euro. Mas analistas alertam que quem esperar que o vertiginoso volume de recursos resolverá também a crise fiscal e aliviará a situação econômica na zona do euro poderá se decepcionar.

Com cerca de € 700 bilhões de dívida vencendo este ano, os bancos poderão usar boa parte da ampla liquidez fornecida nas duas operações feitas pelo BCE para refinanciar seu endividamento.

Em todo caso, a expectativa nos mercados é que a forte liquidez apoiará o apetite global por riscos por algum momento. “As chances de “carry trade” parecem ser bem maiores, com alta nos ativos de risco””, exemplifica Simon Smith, economista chefe da consultoria FxPro, em Londres. Para o Barclays Capital, as operações de carry trade podem envolver principalmente o rublo russo, o peso mexicano e o real brasileiro – portanto, aumentando potencialmente o fluxo de capitais para o Brasil.

O total que os bancos pegaram emprestado no BCE representa um recorde na história da autoridade monetária. E se explica em parte por um fenômeno de substituição. Os bancos reduziram sua participação em outras operações de refinanciamento de mais curto prazo para se concentrar nos empréstimos de três anos. A operação de ontem superou os € 489 bilhões emprestados no leilão anterior, em dezembro. Isso sugere que os próprios estímulos do BCE podem ter ajudado a reduzir qualquer estigma associado com os empréstimos.

Sobretudo, a liquidez realmente nova no sistema financeiro representa € 310 bilhões, com os outros € 220 bilhões representando operações que chegavam a seu prazo de pagamento. Em todo caso, é muito mais do que o montante líquido de € 192 bilhões de dezembro.

Para analistas, os empréstimos do BCE vão ter impacto positivo no setor bancário. Basta ver que a operação de dezembro evitou uma crise iminente de “funding” para os bancos, e ajudou a baixar os juros no interbancário. Mas as instituições financeiras usaram boa parte do dinheiro para pagar empréstimos entre elas.

Agora, o desejo do BCE é de que a nova liquidez se dirija para a economia real. Só que as chances de isso ocorrer parecem pequenas. Primeiro, a demanda de crédito na zona do euro em recessão continua fraca. E, segundo, os bancos continuam a reduzir os balanço para se adequar a novas exigências de capital próprio.

Para a analista Jennifer Mckeown, em Londres, quem espera “encorajamento”” para os bancos comprarem amplas quantias de títulos de dívida soberana, aumentando fortemente seus empréstimos para as companhias e famílias, pode se decepcionar.

Bancos na Itália e na Espanha elevaram suas aquisições de títulos de dívida soberana em janeiro, contribuindo para a baixa dos spreads desses papéis. Mas as compras em toda a zona do euro cresceram menos em janeiro do que em novembro e dezembro, antes da primeira operação de liquidez de três anos. “Mesmo se os bancos tiverem mais dinheiro para investir depois da operação de hoje, não estamos convencidos de que vão aplicar em títulos soberanos arriscados””, acredita Jennifer.

“Essas medidas ajudaram os bancos a reduzir os riscos de funding, mas não a reduzir as incertezas sobre os títulos soberanos europeus””, acrescenta Anshull Pradhan, do Barclays.

Para economistas do banco holandês Rabobank, o BCE continua a comprar tempo para os políticos europeus tomarem decisões politicamente difíceis para a zona do euro sair da crise.

Quanto ao impacto nos financiamentos dos bancos, o que os dados do BCE apontam é uma persistente fragilidade nos créditos para a economia real. Os bancos endureceram ainda mais as condições de financiamento, dobrando a cautela nesses tempos de recessão. A falta de crédito poderá continuar a frear a atividade econômica na zona do euro.

O BCE não revela os nomes dos bancos que obtiveram os empréstimos, ontem. Mas confirma que até instituições brasileiras com subsidiárias na zona do euro podem ter acesso ao financiamento por três anos. Analistas acreditam que o Itaú, por exemplo, não recorreu a nenhuma das operações. Pela característica das operações de Bradesco e Banco do Brasil, também parece difícil que tenham participado. É preciso que o banco tenha ativos elegíveis de maior prazo para oferecer como garantia para receber o financiamento do BCE.

Para a operação de ontem, sete países da zona do euro aceitaram que seus bancos dessem garantia de ativos que até agora recusavam. Trata-se de créditos para empresas e organismos do setor público, com exceção dos empréstimos imobiliários, operações cujo risco de inadimplência seja igual ou inferior a 1%. Até agora, os bancos centrais na Europa só aceitavam ativos de garantia com risco de calote inferior a 0,4%. A flexibilização favoreceu a participacao de bancos que tinham dificuldade em fornecer garantias suficientes.

Fonte: Valor Econômico

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