A necessidade de encontrar fontes de investimento para projetos de até US$ 4,5 trilhões em infraestrutura, nos próximos cinco anos, especialmente no Brasil, Índia e África do Sul, dominou grande parte do encontro de chefes de Estado dos Brics, ontem em Durban.
A presidente Dilma Rousseff anunciou o interesse em contar com investimentos dos Brics para financiar parte dos projetos brasileiros em estradas, portos, aeroportos e energia, entre outras obras de infraestrutura, e convidou os chineses explicitamente para esses investimentos.
Os países em desenvolvimento, especialmente os Brics, devem fazer “todo o esforço” em ampliar suas economias e seus próprios mercados, para evitar que os problemas dos países avançados sejam um obstáculo ao desenvolvimento, defendeu Dilma, ao discursar no encontro. “Não podemos permitir que os problemas dos países avançados criem obstáculos para o crescimento econômico de países como os nossos”, disse a presidente.
“Nosso caminho é encontrar novas soluções que garantam crescimento mais vigoroso dos países emergentes, de modo a assegurar a criação de empregos de qualidade”, disse Dilma. “Se faltam oportunidades de investimento nas economias avançadas, vamos ampliar nossos próprios investimentos; se há escassez de financiamento, vamos criar fontes de financiamento de longo prazo.”
Dilma comemorou o anúncio de criação do Banco de Desenvolvimento dos Brics como sinal de que os países do grupo pretendem atuar juntos para criar alternativas de financiamento para infraestrutura. “Os Brics têm de ter organismos de cooperação multilateral, que deem condições e apoio para que as nossas economias se expandam”, disse a presidente, em entrevista ao fim do encontro.
“O grande desafio das economias dos Brics é justamente ampliar o investimento em infraestrutura no sentido amplo, logística, rodovia, ferrovia, portos, aeroportos etc, mas também energia elétrica, petróleo e gás, o suporte para essa extração de petróleo e gás, estaleiros, e também interconexão de banda larga”, listou Dilma. “Para nós, é absolutamente indispensável, para manter taxa de investimento elevada, esse investimento em infraestrutura, para o bem-estar da nossa população.”
À noite, em reunião bilateral com o presidente da China, Xi Jinping, Dilma convidou os chineses a investirem no Brasil, dizendo ter interesse em incentivar parcerias de companhias brasileiras com os chineses. Segundo uma autoridade que acompanhou a reunião, Dilma disse considerar os chineses “bem-vindos” ao esforço de investir R$ 250 bilhões em infraestrutura e citou como exemplo o projeto do trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo.
Xi Jinping, segundo um dos participantes do encontro, disse ter “todo interesse” em estimular investimentos, não só no Brasil, mas também em projetos de integração de infraestrutura com os países vizinhos. Dilma o convidou a vistar o Brasil e propôs a criação de um fórum bilateral de altos executivos para facilitar investimentos e comércio entre os dois países.
O presidente chinês citou como exemplo de parceria bem-sucedida, incentivada pelos chineses, a associação entre a Embraer e a chinesa Avic, para fabricação dos jatos executivos Legacy, na China.
Xi disse apoiar o nome do diplomata brasileiro Roberto Azevedo para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), e saiu do encontro com a promessa da presidente Dilma de apoiar a China para presidência do G-20, em 2016.
Conversas de negócios entre os países dos Brics fizeram parte do encontro de cúpula, encerrado ontem, que, como havia antecipado em janeiro o Valor, teve entre suas principais decisões o compromisso dos chefes de Estado com a criação do banco de desenvolvimento do grupo e a criação de um “arranjo contingente de reservas”, que destina parte das reservas em moeda internacional dos cinco países a um mecanismo de socorro mútuo em caso de dificuldades. O objetivo desse arranjo seria honrar as contas externas ou obter financiamento internacional.
“Nossa visão compartilhada, de intensificar a integração econômica e a industrialização, permanece no centro da parceria dos Brics”, discursou o anfitrião do encontro, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, que justificou a criação do Banco dos Brics “baseado em nossa [dos países dos Brics] considerável necessidade de infraestrutura, que soma cerca de US$ 4,5 trilhões nos próximos cinco anos”.
Como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, que endossaram a preocupação com investimentos em infraestrutura, Xi Jinping lembrou que os Brics se comprometeram em cofinanciar também projetos de investimento na África, por meio de um acordo entre seus bancos de desenvolvimento.
Por: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico
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