Operações de contratação de dívida no mercado local, e principalmente as captações feitas por meio de debêntures de infraestrutura, que contam com isenção fiscal para estrangeiros e pessoas físicas, ganharam espaço nos planos de crescimento dos grandes bancos de investimento com atuação no país. Eles estão de olho principalmente nos grandes projetos de infraestrutura previstos para os próximos anos, cuja necessidade de financiamento supera R$ 1 trilhão.
No fim do ano passado, as concessionárias Autoban e Auto Raposo Tavares (Cart) abriram espaço para novas operações após terem feito colocações bem-sucedidas de debêntures de infraestrutura – essa última teve esforços de venda feitos para investidores estrangeiros, com “roadshow” para oferta dos títulos lá fora. No fim, investidores institucionais alocaram perto de R$ 72 milhões nos títulos, em uma operação que pode ser considerada, de certa forma, uma captação externa.
“Teremos operações parecidas com Cart ao longo deste ano. As debêntures de infraestrutura tornaram-se uma realidade” diz Alexandre Guião, chefe da área de atacado (“Global Banking”) do HSBC, um dos bancos que coordenaram a emissão. “Empresas estão aproveitando para trazer oportunidades tanto para pessoas físicas brasileiras, que estão diversificando seus riscos devido à queda nas taxas de juros locais, quanto a investidores internacionais, devido aos benefícios fiscais.”
O executivo conta que o banco já tem mandatos para fazer novas operações parecidas este ano, mas não revela quais são os nomes dos potenciais emissores nem de que ordem de volume elas serão.
Para os americanos J.P. Morgan e o Citi, o aumento de operações no mercado brasileiro é de importância inquestionável, dado o seu potencial de crescimento. “Vemos o mercado de capitais [local] evoluindo, e acreditamos que tem potencial”, diz Ricardo Leoni, diretor-executivo responsável por mercado de capitais para dívida do J.P. Morgan no Brasil.
O Citi pretende se valer de sua experiência na estruturação e venda no exterior para propagar as debêntures de infraestrutura também entre investidores estrangeiros.
No Santander, os holofotes também têm se voltado cada vez mais para o mercado de capitais doméstico. Para 2013, o banco acredita que haverá uma evolução importante do mercado, que se tornou uma interessante e barata alternativa de financiamento para emissores que antes recorriam basicamente a linhas em moeda estrangeira para conseguir alongar prazos. “Qual é o foco, a grande necessidade hoje? É o investimento em projetos, em infraestrutura, em infraestrutura social, energia, transporte, logística. E esses são ativos com geração de receitas em reais”, afirma Eduardo Müller Borges, diretor de mercado de crédito do Santander. Sob o seu comando estão as operações de contratação de dívida local e externa.
O executivo explica que o lema do banco, mais do que nunca, tornou-se “originar para distribuir”, o que mostra que o fôlego para novos negócios vai além de operações de bônus ou debêntures, mas engloba a oferta de serviços dos mais diferentes tipos aos clientes locais.
“Queremos dar um giro em nossa carteira. Então pegamos operações que tipicamente ficariam estacionadas no balanço e damos liquidez para elas. Tem projetos que seriam financiados via um empréstimo-ponte, ou um empréstimo de longo prazo, com ou sem o BNDES, por exemplo, e que hoje você pode levar a mercado”, afirmou.
Na unidade local do Morgan Stanley, que sempre teve uma atuação no país mais voltada para o segmento de banco de investimento, e não comercial, operações de “project finance”, ou financiamento de projetos, passaram a ser estratégicas. No início de 2012 o banco participou de um empréstimo sindicalizado para a Odebrecht Óleo e Gás e de outro para a OGX Maranhão em moeda local. Fez ainda um empréstimo-ponte para o Grupo Schahin para a compra de uma plataforma de petróleo – operações que não costumava fazer até um ano antes.
“Em poucos meses, demos um gás no produto project finance e esse passou a ser um grande tema para nós. Fazemos isso com nosso time especializado em ‘project finance’ em Nova York”, diz Mário Leão, superintendente executivo responsável por mercado de capitais de renda fixa do Morgan Stanley no Brasil.
Fonte: Valor Econômico
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