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Energias solar e eólica podem reduzir 80% das emissões dos EUA sem aumentar conta de luz

A projeção foi feita por pesquisadores americanos para estimar o potencial da energia limpa em países continentais.  Metodologia pode ser usada para fazer projeções no Brasil

Cataventos de uma usina eólica no Texas.  Uma rede de abastecimento interligada em países grandes como os EUA - e o Brasil - podem reduzir as variações por condições meteorológicas locais (Foto: Divulgação Brazos Wind Farm/Creative Commons)

Cataventos de uma usina eólica no Texas. Uma rede de abastecimento interligada em países grandes como os EUA – e o Brasil – podem reduzir as variações por condições meteorológicas locais (Foto: Divulgação Brazos Wind Farm/Creative Commons)

Não é preciso esperar nenhuma revolução tecnológica para aproveitar de forma bem mais ambiciosa o potencial da energia do sol e dos ventos. É o que mostra um estudo feito por um grupo de pesquisadores nos Estados Unidos. Eles simularam como seria possível gerar eletricidade para abastecero país usando o máximo de energia solar e eólica (dos ventos) apenas com a tecnologia existente, instalando usinas do tipo onde fosse economicamente viável. Essas fontes limpas de energia ajudam a reduzir o uso de carvão, derivados de petróleo e outros combustíveis que emitem gases como o carbônico, responsáveis pelas mudanças climáticas. Segundo o estudo, é possível usar energia solar e eólica para reduzir as emissões dos EUA em 80% do que eram em 1990. Ou 81% de como estarão em 2030 se nada for feito. Isso sairia caro? Nem um pouco. Ainda segundo o estudo, essa transição para uma energia limpa nos EUA resultaria em eletricidade 9% mais barata do que a atual, baseada em combustíveis fósseis.

“A principal mensagem de nossa simulação é que uma transição rápida para uma geração de baixo carbono é possíel e pagável até 2030”, diz Alexander MacDonald, da agência americana para oceanos e atmosfera, a NOAA, um dos órgãos que ajudam o governo a planejar suas ações. MacDonald é um dos coordenadores do estudo, junto com Christopher Clack, da Universidade do Colorado em Boulder, também nos EUA. O estudo foi publicado na revista britânica Nature Climate Change.

Um dos grandes feitos do estudo é mostrar como é possível converter a geração de eletricidade de um país grande como os EUA sem aumentar as fontes de energia que independem das condições do tempo, chamadas de energia firme pelos técnicos do setor. Em geral, quem planeja o setor elétrico de um país, tanto nos EUA quanto no Brasil, trabalha com um limite para o uso de energia solar e eólica. Argumentam que é preciso garantir um nível mínimo de suprimento quando o vento e o sol não ajudam (já que não dá para guardar muita eletricidade gerada nos bons momentos). Por isso, esses países apostam em usinas hidrelétricas (de preferência com grandes reservatórios para estocar água), além de termelétricas a gás ou óleo combustível e até usinas nucleares, prontas para entrar em ação e equilibrar o abastecimento quando o vento diminiu ou o sol não comparece. O estudo mudou essa lógica. Mostrou que é possível abastecer os EUA com mais solares e eólicas, sem expandir a base atual de fontes de energia firme.

O segredo é a conexão da rede elétrica do país todo. Num país com dimensões continentais, é possível compensar as condições desfavoráveis de tempo num lugar. Se o vento diminui em Seattle, na costa do Pacífico, isso pode ser compensado com a brisa do mar do Caribe, na Flórida. O consumo de eletricidade que aumenta no entardecer em Nova York pode ser em parte abastecido pelo sol da Califórnia, que ainda brilha naquele momento. Os pesquisadores fizeram suas estimativas considerando as condições de vento e insolação hora a hora em cada pedaço de 13 km2 do território continental americano entre 2006 e 2008.

“Nosso estudo indica que a chave para a geração de energia limpa é o grid de transmissão que permite aos EUA produzir e usar eletricidade em uma área grande o bastante para reduzir o problema de intermitência do sol e do vento”, diz MacDonald.  Uma área do tamanho dos EUA é grande o bastante para sistemas meteorológicos distintos estarem em ação.  Uma parte do país pode estar sofrendo com um furacão ou recebendo a entrada de uma grande frente fria, enquanto outra região vive uma seca.

O Brasil é grande o bastante para ter uma condição equivalente à dos EUA.  O país também consegue viver sistemas meteorológicos distintos agindo simultaneamente em seu território, causando chuvas e seca, vento e calmaria em localidades distantes.  Por isso o estudo de MacDonald e Clack é tão significativo para nós.  Com um grid interligado, o Brasil também pode se beneficiar dessa compensação meteorológica e garantir o abastecimento elétrico com solares e eólicas, reduzindo a necessidade de fontes de energia firme.  Seria interessante saber o que uma simulação com a metodologia deles revelaria sobre as possibilidades no Brasil.  Felizmente, isso é viável, segundo MacDonald.  “Para fazer o estudo no Brasil, precisaríamos coletar os dados de meteorologia e consumo de energia.  Então, nosso simulador poderia ser usado para fazer previsões sobre o melhor sistema de geração para o Brasil”, diz.

Um limitador do estudo é que ele não considera o aumento na demanda de eletricidade na medida que o transporte público passa a usar mais carros elétricos, VLTs e metrô.  Também não conta uma transição para mais dependência em eletricidade do que combustíveis fósseis na indústria, o que aumenta mais a demanda futura.  Por outro lado, o estudo assume que todo excedente de energia produzido pelas usinas solares e eólicas é jogado fora.  Na verdade, ele pode em parte ser estocado de várias formas como em baterias, gerando hidrogênio para queima em geradores especiais.  A Tesla lançou baterias penduradas na parede para guardar energia em residências americanas.  Alguns países, como Portugal, usam a eletricidade excedente dos usinas eólicas para bombar água dos rios para os reservatórios de hidrelétricas.

Por: Alexandre Mansur
Fonte: Blog do Planeta

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