Berta Cáceres ficou conhecida por sua luta contra uma grande hidrelétrica em Honduras, combatendo interesses financeiros de grandes empresas. Uma das principais lideranças indígenas do país, ela recebeu o Prêmio Ambiental Goldman 2015
Berta Cáceres, da etnia Lenca, foi uma lutadora incansável que dedicou a vida à defesa dos direitos indígenas à terra e aos recursos naturais. Em 1993 era fundou o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas (COPINH) para combater as ameaças às comunidades por madeireiros ilegais. Sua rejeição à construção da barragem de Agua Zarca em Honduras tornou-a famosa mas também trouxe ameaças à sua vida, sua família e sua comunidade. A mobilização popular liderada por Cáceres conseguiu que o Banco Mundial e uma das maiores empresas do ramo abandonassem o projeto.
Na semana passada a ativista denunciou publicamente o assassinato de vários líderes indígenas e as ameaças as quais ela mesma estava sendo submetida diariamente. Ontem a notícia de seu assassinato ecoou pelo mundo. Ela foi assassinada tarde da noite na quarta 2 de março por dois homens que invadiram sua residência. O crime está sendo investigado.
Muitas comunidades indígenas enfrentam a mesma luta pelo seu direitos e territórios que Berta liderou. É o caso dos Munduruku, no rio Tapajós, na Amazônia brasileira, lutando contra a construção de uma barragem que pode acabar com suas vidas. No final de outubro, o movimento Iperegayu, do povo Munduruku, participou de uma cúpula indígena mundial sobre rios e meio ambiente, na Malásia, onde Cáceres estava presente. O encontro reuniu povos indígenas ameaçados por barragens da Malásia, Indonésia, Filipinas, Camboja, China, Estados Unidos e Honduras para compartilhar experiências, conquistas e estratégias de resistência.
Hoje ainda ressoam as palavras que ela disse ao receber o Prêmio Ambiental Goldman em 2015: “Vamos acordar Humanidade! Despertemos! Já não há mais tempo!”.
Rio Sagrado
De acordo com informações do Prêmio Goldman, quase 30% das terras de Honduras estavam reservadas para concessões de mineração, criando uma demanda por energia barata para abastecer as operações desses projetos futuros. Para atender a essa necessidade, o governo aprovou centenas de barragens em todo o país, privatizando rios, terras e expulsando comunidades.
Entre eles estava a barragem de Agua Zarca, um projeto conjunto da empresa hondurenha Desarrollos Energéticos SA (DESA) e a chinesa Sinohydrol, a maior empresa construtora de barragens do mundo. Agua Zarca, planejada para ser construída no rio Gualcarque, sagrado para povo Lenca, iria ser realizada sem consultar o povo, o que seria uma violação dos tratados internacionais que regem os direitos dos povos indígenas, como a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que prevê a Consulta Prévia, Livre e Informada aos povos tradicionais. A barragem iria cortar o fornecimento de água, alimentos e medicamentos para centenas de Lencas.
A partir de 2006, Cáceres coordenou uma campanha contra as obras da barragem, organizando assembleias que votaram contra o projeto e liderando protestos pacíficios que exigiam uma voz no projeto. A campanha também alcançou audiência internacionais, sendo levada a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Em abril de 2013, ela organizou um bloqueio permanente com a comunidade Lenca para impedir o acesso da empresa hondurenha ao local de construção. No final de 2013, a Sinohydro encerrou o contrato com a DESA citando a resistência da comunidade e a violência que era cometida contra eles. Em seguida os fundos do Banco Mundial para a obra também foram retirados citando violação de direitos humanos.
Fonte: Greenpeace Brasil






