O número de elefantes na África está em rápido declínio e a espécie corre risco de extinção. A caça, direcionada ao comércio de marfim local e internacional, é a responsável pela situação, diz estudo divulgado nesta quarta (31).

Elefante corre ao ouvir carro se aproximar, na Zâmbia
A população de elefantes da savana africana caiu 30% entre 2007 e 2014. A queda é de cerca de 8% ao ano, afirma a pesquisa desenvolvida pelo cofundador da Microsoft e filantropo Paul Allen.
“Se não conseguimos salvar os elefantes africanos, qual a chance de conservarmos o resto da vida selvagem africana?”, afirma o ecologista Mike Chase, um dos autores da pesquisa. “Eu tenho esperança de que com as ferramentas certas, pesquisa, esforços de conservação e vontade política, nós consigamos conservar os elefantes nas décadas que estão por vir.”
O registro aéreo, parte da pesquisa, cobriu 18 países. Dúzias de aviões voaram o equivalente para ir até a Lua e percorrer parte da viagem de volta.
O “Grande Censo dos Elefantes” (tradução livre para “Great Elephant Census”) teve participação de 90 cientistas.
O estudo estima que a população de elefantes na savana seja de 352.271.
De forma geral, os pesquisadores encontraram 12 carcaças para cada cem elefantes vivos, o que indica níveis de caça altos o suficiente para causar diminuição da população. Contudo, essas taxas são muito mais altas em alguns países.
Angola, Moçambique e Tanzânia possuem maior declínio populacional de elefantes do que se sabia anteriormente.
Em partes da República Democrática do Congo, de Camarões e da Zâmbia, a espécie enfrenta risco de extinção, segundo o estudo.
Por outro lado, é estável ou até em parte crescente a quantidade de elefantes na África do Sul, em Uganda e em regiões do Maláui.
Os resultados do estudo foram anunciados na Congresso Internacional de Conservação, realizado pela UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), em Honolulu, no Havaí.
Allen, que contribuiu com a pesquisa com sete milhões de dólares, afirma que decidiu realizar o censo após ouvir que, em décadas, não houve contagens na África.
“Minha primeira viagem para a África foi em 2006 e, desde então, eu sou fascinado por elefantes”, diz. “Eles são inteligentes, expressivos e dignos, mas não podem ser subestimados. Então, quando a última crise relacionada à caça começou, eu me senti obrigado a fazer algo.”
Os pesquisadores usaram os limitados dados existentes como ponto de partida para o estudo. Contudo, a atual pesquisa é mais ampla e vai servir como um banco de dados mais confiável para futuras observações, afirmam os cientistas.
Como metodologia, os pesquisadores contaram manualmente os animais enquanto os aviões sobrevoavam uma área específica, em uma altitude específica.
O método é amplamente utilizado para contagem de animais em grandes porções de terra e foi o mais preciso de três formas testadas em uma população conhecida na África, diz Chase.
Os pesquisadores também utilizaram vigilância por vídeo quando lidavam com grandes manadas.
AMEAÇAS
Os elefantes estão em perigo e o responsável é o comércio de marfim, que é proibido internacionalmente. Contudo, o comércio doméstico é legal em quase todos os lugares.
Uma resolução discutida na conferência do Havaí busca um consenso internacional para fechar os comércios dentro dos países. A justificativa é que a matança ilegal para a retirada das presas ameaça a segurança nacional, atrapalha o desenvolvimento econômico e coloca em risco aqueles que protegem os animais.
O presidente dos EUA Barack Obama e o presidente chinês Xi Jinping, no ano passado, anunciaram compromissos para combater o tráfico de vida selvagem. Eles prometeram buscar o total banimento da importação e exportação de marfim, e o fim do comércio doméstico do produto.
O declínio no número de elefantes da savana, assim como o encolhimento dos elefantes de floresta da África, está diretamente conectado a atividades criminosas de caça, algumas com ligações com grupos terroristas, de acordo com a Agência de Investigação Ambiental, de Washington, uma entidade sem fins lucrativos.
“O comércio de marfim tem causado desestabilização em todo lugar em que está presente na África”, afirma o presidente da agência Allan Thornton.
Thornton diz que, em 2008, um leilão de estoques de marfim para a China e o Japão causou um pico de caça ilegal e que, desde então, aumentaram as taxas de declínio da população de elefantes africanos.
Fonte: Folha de São Paulo