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Como trazer o verde de volta à paisagem do Rio Doce?

Pesquisa busca estabelecer técnica mais eficiente para recuperar a mata ciliar afetada pela lama da Samarco; um dos objetivos é evitar que ações de restauração sejam desperdiçadas

Rompimento da barragem da mineradora Samarco destruiu o distrito de Bento Rodrigues, zona rural a 23 quilômetros de Mariana, em Minas Gerais Corpo de Bombeiros/MG/Divulgação

Rompimento da barragem da mineradora Samarco destruiu o distrito de Bento Rodrigues, zona rural a 23 quilômetros de Mariana, em Minas Gerais Corpo de Bombeiros/MG/Divulgação

As árvores fortes o suficiente para suportar a onda de lama que varreu a bacia do Rio Doce, quando a barragem de rejeitos da mineradora Samarco se rompeu, registram ainda hoje em seus próprios troncos, como marcas arqueológicas, a dimensão da tragédia. A maior parte da vegetação das margens, no entanto, foi carregada ou soterrada sob uma grossa crosta que impede agora o nascimento de novas espécies e dificulta a recuperação natural do solo. Para trazer de volta o verde onde o marrom tomou conta, pesquisadores buscam estabelecer qual o melhor método de restauração das matas a partir da melhor relação custo x benefício.

Diante das condições atuais, o estudo Comparação de Metodologias de Restauração Ecológica da Vegetação Nativa na Mitigação dos Impactos do Despejo de Rejeitos de Mineração na Região de Mariana (MG) se propôs a testar três diferentes técnicas de restauração em duas situações comuns na região: no pasto abandonado e no solo com lama de rejeito. Os blocos experimentais estão entre os municípios de Mariana e Barra Longa.

Marca da onda de rejeitos na mata ciliar de Paracatu, em Mariana (MG) - Foto: Lerf-Esalq/Usp

Marca da onda de rejeitos na mata ciliar de Paracatu, em Mariana (MG) – Foto: Lerf-Esalq/Usp

As técnicas avaliadas são o plantio de mudas arbóreas nativas; semeadura de espécies arbóreas nativas intercalada com semeadura de adubação verde; e plantio de mudas arbóreas nativas com semeadura de adubação verde.  É chamada adubação verde a técnica de se adicionar alguns tipos de plantas de crescimento rápido, como as leguminosas, para aumentar a quantidade de nitrogênio no solo.

A pesquisa, que foi financiada com doações arrecadadas pelo coletivo Rio de Gente e sob gestão e implementação do Greenpeace Brasil, é executada pelo Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (LERF/ESALQ/USP) em parceria com a empresa Bioflora Tecnologia da Restauração, sob coordenação do Prof. Dr. Ricardo Ribeiro Rodrigues (LERF) e do engenheiro agrônomo André Gustavo Nave (LERF e BIOFLORA).

De acordo com os pesquisadores, a recuperação das matas ciliares é essencial. A vegetação forma uma cobertura protetora que evita assoreamento e erosão de córregos e rios, age como um filtro contra poluentes, permite o recarregamento dos aquíferos através do aumento da permeabilidade dos solos à água das chuvas e produz matéria orgânica que entra na cadeia alimentar da fauna aquática.

“A heterogeneidade dos rejeitos, em termos de profusão e composição, e a heterogeneidade da influência da água nesses rejeitos, mostra que precisamos desenvolver uma metodologia que ainda não existe e que seja baseada em melhor qualidade e menor custo”, afirma o professor Ricardo Ribeiro Rodrigues.

Para avaliar a eficiência de cada técnica, são consideradas muitas variáveis, como a altura das árvores, a quantidade de indivíduos de uma mesma espécie em determinada área, o tamanho de copa, a cobertura e condições físico-química dos solos, além da análise de custos referentes à aquisição de sementes, mudas, insumos, mão de obra, maquinário e do rendimento hora-homem.

Recuperação a médio prazo

“Os resultados preliminares indicam que a metodologia que utiliza mudas nativas com adubação verde nas entrelinhas do plantio foi a mais eficaz para o brotamento das primeiras mudas”, explica Rodrigues. Uma segunda fase, que deve durar até setembro de 2017, deve apontar os resultados referentes ao crescimento das mudas.

Os testes já foram iniciados e seus resultados serão verificados ao longo do tempo. De acordo com o engenheiro agrônomo André Nave, “numa situação normal, em torno de um ano e meio a dois anos a gente já consegue ter um aspecto de capoeira, com uma floresta diversa, que vai se desenvolver e transformar em uma floresta madura. Quando a gente tem uma situação que é o extremo, como aqui, eu suponho que isso possa demorar três, quatro, cinco anos, dependendo das condições de solo.”

“Recuperar as florestas nas margens do Rio Doce é uma maneira de ressuscitá-lo”, afirma a coordenadora da Campanha de Água Fabiana Alves.  “A empresa Samarco, infelizmente, não fez nenhum tipo de restauração às margens do rio, limitando-se a plantar um mix de gramíneas e leguminosas.  E o que o estudo mostra é que isso não recupera a vegetação nem o rio”, ressalta.

Fonte: Greenpeace

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