PronaSolos inicia fase piloto em março e promete ser maior estudo sobre solos do Brasil
A Embrapa Solos inicia neste mês um projeto-piloto do Programa Nacional de Solos do Brasil (PronaSolos), cujo objetivo é fazer um mapeamento completo e em profundidade de todo o território brasileiro. Com o programa completo, que ainda depende da aprovação do governo federal e que deverá ser desenvolvido em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e universidades brasileiras, será possível gerar dados detalhados para subsidiar políticas públicas e mitigar as emissões de gases do efeito estufa.
“O mapeamento de solos é uma das coisas mais importantes para qualquer atividade agrícola e é essencial que ele aconteça”, explicou o pesquisador da Embrapa, Eduardo Assad. Segundo ele, o levantamento vai resolver uma série de dificuldades com o planejamento agrícola. “No momento em que se faz o mapeamento, temos o conhecimento das áreas mais propícias para investimentos em recuperação de solos, manejo de pastagens, sistemas integrados. Para a agricultura de baixo carbono, será um investimento fantástico”, disse.
Com conhecimento sobre as características do território é possível, entre outros benefícios, calcular o estoque de carbono para mitigar emissões por meio da manutenção do carbono no solo. Já a falta de informação provoca ineficiência da produção e da produtividade e problemas ambientais, como assoreamento de rios.
Bom exemplo
Em 2009, Assad foi um dos coordenadores de um detalhado trabalho de zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar para a produção de etanol e açúcar no Brasil. Esse levantamento resultou em uma seleção de terras potenciais para a expansão do cultivo da cana-de-açúcar.
Os resultados demonstraram que o país dispõe de cerca de 64,7 milhões de ha de áreas aptas à expansão do cultivo com cana-de-açúcar, sendo que destes 19,3 milhões de ha foram considerados com alto potencial produtivo, 41,2 milhões de ha como médio e 4,3 milhões como de baixo potencial para o cultivo.
Segundo o pesquisador da Embrapa, projetos como esse trazem um enorme avanço para o planejamento do cultivo no Brasil. Por meio da avaliação das características físicas, químicas e mineralógicas dos solos, relacionados aos requerimentos da cultura, foram fornecidos subsídios técnicos para formulação de políticas públicas visando à expansão e produção sustentável de cana-de-açúcar. Com as estimativas deste estudo, foi possível comprovar que o país pode expandir o cultivo com cana-de-açúcar sem precisar incorporar novas áreas com vegetação nativa para isso.
Investimento pesado
O mapeamento detalhado no Brasil prometido pelo PronaSolos não é novidade e as investidas para realizá-lo já duram anos. “Foram feitas diversas tentativas no passado para realizar o mapeamento dos solos brasileiros, todas sem sucesso. Durante décadas que se tenta avançar com esse levantamento”, observou Assad, que acompanha o tema. O conhecimento do solo por área no Brasil é muito baixo. As escalas de mapeamento existentes no país estão em torno de 1 por milhão, o que não supre as necessidades dos estados e municípios, já que representa o conhecimento do solo a cada 150 mil hectares, aproximadamente.
Para efeito de comparação, os Estados Unidos, um dos dos principais concorrentes do Brasil no setor, tem escala de conhecimento dos solos de 1 centímetro para cada 25 mil centímetros.
Assad ressaltou que um levantamento deste porte sobre os solos exige um investimento pesado e muito trabalho em parceria. Segundo o chefe-geral da Embrapa Solos, Daniel Perez, em entrevista ao Globo Rural, a execução do PronaSolos demandará investimentos públicos e privados que poderão alcançar R$ 3 bilhões em um prazo de até 30 anos. O custo estimado na primeira fase do PronaSolos é de cerca de R$ 900 mil.
Com informações Globo Rural
Fonte: Observatório ABC