O investimento em meio ambiente pode ter um resultado muito positivo para o Brasil: maior crescimento econômico, redução do desemprego e aumento da renda. O país ainda chegaria a 2030 com um nível de emissão de cerca de 1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (1 GtCCh) – 25% menos do que emitiu em 1990 e 49% abaixo do indicador em 2005.
Os benefícios são descritos no estudo “Implicações Econômicas e Sociais de Cenários de Mitigação no Brasil – 2030 w , cuja elaboração envolveu 85 especialistas de dez ministérios, entidades industriais, professores, cientistas da Petrobras e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) focados em cinco setores: energia, transporte, indústria, uso do solo e resíduos.
A conta do investimento em medidas de mitigação das emissões dos gases do efeito-estufa seria de mais de RS 370 bilhões em quinze anos, mas o Produto Interno Bruto teria uma injeção adicional de RS 600 bilhões. Seriam criados 1,15 milhão de novos postos de trabalho, o desemprego cairia para até 3,5% e a renda anual e o poder de compra das famílias com renda até dez salários mínimos, que em 2005 representavam 76% da população, cresceríam mais do que a das famílias mais ricas. Havería uma inflação adicional de 12,3 pontos percentuais-ou menos de um ponto percentual ao ano-no cenário que exige medidas de mitigação mais audaciosas.
“Se o Brasil tiver vontade política podemos ter uma contribuição importante”, diz Luiz Pinguelli Rosa, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e professor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), que coordenou o estudo. “Não é a política ambiental ambiciosa que vai reduzir o potencial de crescimento do país nas próximas décadas”, afirma William Wills, pesquisador da Coppe/UFRJ, um dos especialistas envolvidos na simulação.
O trabalho baseou-se em modelagens macroeconômica e setorial. Foi patrocinado pela organização não-governamental Children’s Investment Fund Foundation (CIFF), pela Agência Suíça para o Desenvolvimento e a Cooperação (SDC) e pelo Santander Brasil.
Dois cenários, com medidas adicionais de mitigação das emissões, foram traçados a partir do Cenário de Plano Governamental (CPG), com as ações já previstas no Plano Nacional sobre Mudança do Clima (CNPM), e levaram em conta algumas premissas do Plano Nacional de Energia (PNE/2050): Em 2030, a população do Brasil será de 223 milhões de pessoas, o crescimento do PIB atingiria 3,9% ao ano e o nível de investimento do país chegaria a 21% em relação ao Produto Interno Bruto. Se nada for feito, as emissões de gases de efeito-estufa, que vêm caindo desde 1995 e atingiram o mais baixo nível em 2010, com 1,21 GtCO2 (1,21 bilhão de toneladas de dióxido de carbono), voltarão a crescer, chegarão a 1,27 GtCO2, em 2020, e a 1,6 GtCO2, em 2030.
Na agropecuária, o reflorestamento, a recuperação de pastos e a restauração da Mata Atlântica, três medidas enquadradas na sigla Afolu, evitariam a emissão de 657,4 MtCO2 (milhões de toneladas de CO2), de 2010 a 2030, no cenário mais conservador, e de até 2,3 GtCO2 (bilhões de toneladas de CO2), no mais ambicioso.
Em transporte, a implantação de metrôs e veículos leves sobre trilhos (VLTs) e a substituição de rodovias por ferrovias e hidrovias poupariam outros 84,5 MtCO2 ou 506,9 MtCO2. Programas de incentivo à energia renovável, como o uso de biodiesel e etanol nos transportes e fontes de geração eólica e solar, Reduziriam as emissões em 505 MtCO2 a 727,4 MtCO2.
A política de resíduos sólidos evitaria a emissão de 597 MtCO2 ou 608,4 MtCO2. Já programas de eficiência energética em residências e na indústria e a otimização do tráfego nas cidades poupariam o ambiente de 431,3 MtCO2 e 530,4 MtCO2.
No primeiro cenário desenhado por especialistas haveria investimento de R$ 99 bilhões entre 2015 e 2030. Com o uso de instrumentos mais ambiciosos o valor sobe para R$ 372 bilhões no mesmo período. Em ambos os casos, verifica-se um aumento de preços no período – de 6,4 pontos percentuais no primeiro cenário, ou de 12,3 pontos percentuais, no segundo. Isto ocorreria porque o nível de empregos exigidos pelas ações adicionais resultaria em melhores salários, puxando para cima os custos de produção.
A renda média anual das famílias, porém, cresceria mais que os preços, graças à criação de 355 mil a 1,15 milhão de novos postos de trabalho. Maiores níveis de emprego e consumo propiciariam um aumento de R$ 182 bilhões a R$ 609 bilhões no PIB acumulado de 2015 a 2030. Os dois cenários são efetivos no controle dos gases de efeito-estufa e deixariam o país em situação mais confortável frente aos esforço mundiais de redução das emissões, a partir de 2030, para manter o aquecimento global abaixo de 2ºC.
O estudo também traçou dois cenários extras a partir da possibilidade de criação de uma taxação sobre a geração de carbono pela queima de combustíveis fósseis. No primeiro, a precificação global seria de US$ 20 por tonelada. No segundo, de US$ 100 por tonelada. A taxa provocaria uma redução nas emissões em relação ao CPG e um aumento na comparação com os cenários sem taxa, mas nestes casos o PIB poderia cair.
A precificação global de carbono aumentaria o custo de produção e poderia provocar redução da demanda, com impacto no Produto Interno Bruto. Em compensação, a taxa voltaria ao setor produtivo pela redução de encargos trabalhistas, o que estimularia a criação de emprego em setores intensivos de mão de obra como serviços e agropecuária. “A taxa de carbono não salva o PIB, mas salva o mercado de trabalho”, diz William Wills, da Coppe/UFRJ.
Fonte: Valor Econômico