Logo após a crise de 2008, alguns bancos de investimento estrangeiros, como o Goldman Sachs, UBS e BofA Merrill Lynch, anunciaram a criação de áreas de gestão de recursos e de “private banking” no Brasil, animados com as oportunidades criadas pela retomada do mercado de capitais. No entanto, o crescimento menor que o esperado das operações no Brasil, a grande competitividade local de gestão de recursos e a implementação de novas regras de requerimento de capital na Europa e Estados Unidos fizeram com que os bancos de investimento estrangeiros promovessem uma reformulação de suas estratégias, o que levou algumas instituições a reestruturar as operações locais para sobreviverem por aqui.
De um lado, o BofA Merrill Lynch decidiu por encerrar seu private banking em 2011 e o banco francês BNP Paribas está vendendo a operação de gestão de fortunas no Brasil. Procurado pelo Valor, o BNP afirma que não comenta rumores de mercado.
Mas a saída de alguns players do mercado acabou trazendo oportunidades de crescimento para outras instituições. O UBS, por exemplo, contratou três profissionais que saíram do BofA Merrill Lynch, após o fechamento da área no Brasil. O banco aposta no crescimento do private banking com o cenário de taxa básica mais baixa, que deve levar os clientes a buscarem ativos que ofereçam retorno maior. O UBS tem R$ 3 bilhões sob gestão de clientes private, ainda longe dos líderes do mercado.
O banco retomou a atividade de gestão de fortunas no Brasil, após a venda do Pactual para o BTG. “O UBS é líder global em gestão de fortunas e não faz sentido ter uma operação pequena no Brasil”, afirma Edinardo Figueiredo, diretor de gestão de fortunas do UBS.
Para aumentar a participação no mercado brasileiro, o UBS tem estudado algumas operações de aquisição e chegou a tentar um acordo com a gestora JGP neste ano, e estaria avaliando a compra do private do BNP. O banco não confirma as transações. “O foco é crescimento orgânico, mas não estamos fechados a analisar opções de mercado”, afirma Figueiredo.
A instituição pretende ampliar a presença no território brasileiro, devendo inaugurar um escritório no Rio de Janeiro no ano que vem e ampliar as operações no Sul e Centro-Oeste em 2014.
Os bancos estrangeiros que não adquiriram uma operação local – como o Credit Suisse que comprou a Hedging-Griffo, o JP Morgan que comprou parte da Gávea e o BNY Mellon que comprou a Arx Investimentos – também têm enfrentado dificuldade para crescer no mercado de gestão de fundos.
O mercado de gestão de recursos no Brasil é concentrado nos grandes bancos de varejo, que contam com ampla rede de distribuição de seus produtos. Só os seis primeiros colocados no ranking de gestão da Anbima detêm 67% do total da indústria de fundos, que soma R$ 2,106 trilhões.
O Goldman Sachs encerrou a atividade de gestão de fundos locais no início do mês, devendo manter a área dedicada a cuidar da alocação em ativos brasileiros para os fundos da instituição no exterior. A decisão de fechar a gestora no país se deve ao fato de a área, que somava R$ 320 milhões sob gestão não ter atingido o tamanho e a rentabilidade desejados.
A mudança faz parte de um ajuste da estratégia do banco no Brasil de crescer em segmentos como empréstimos estruturados, emissão de títulos de renda fixa e operações com derivativos.
Outra área de aposta do banco no Brasil é o private banking, lançado no final de 2009 juntamente com a gestora. O Goldman conta com um time de 40 profissionais nessa área e está ampliando a rede de atendimento. “Devemos contratar mais quatro pessoas no ano que vem”, diz Fernando Vallada, responsável pela área de gestão de fortunas do Goldman Sachs Brasil.
O objetivo do Goldman, segundo Vallada, não é ser o maior do mercado, mas estar bem posicionado no segmento de clientes com grandes fortunas, com mais de US$ 10 milhões em investimentos. “A área de gestão de fortunas é muito integrada com o banco de investimento, e contribuiu para a geração de negócios”, diz Vallada.
O banco português Banif também encerrou a atividade de gestão de fundos abertos no Brasil, transferindo as carteiras para a Mapfre Investimentos.
O Banif vem reduzindo as operações no Brasil e vendeu em 2010 a Banif Corretora de Valores e Câmbio no Brasil para a Caixa Geral de Depósitos (CGD). O banco está entre os afetados pela crise na Europa e negocia uma injeção de capital com o governo português.
Outros bancos de investimento europeus buscaram reestruturar a área de gestão no Brasil.
É o caso da Besaf – BES Ativos Financeiros, gestora do banco BES Investimentos do Brasil. Em 2011, houve uma troca do time de gestão com a chegada de Paulo Werneck para comandar a área. “Readequamos a estrutura dos produtos e a estratégia de gestão”, conta Werneck.
Com R$ 1 bilhão em carteira, a gestora pretende crescer com o aumento da participação de clientes institucionais e estrangeiros que têm interesse em investir no Brasil.
Werneck acredita que os bancos de investimento terão que oferecer produtos mais inovadores aliados à distribuição de produtos de terceiros.
O banco também conta com o suporte da área de gestão de fortuna, a Espírito Santo Serviços Financeiros DTVM, criada em 2010 após a compra da multi-family office Refram, que conta com um portfólio de R$ 2,4 bilhões. “O BES está bem posicionado e não precisou de injeção de capital do governo português”, diz Domingos Espírito Santo, responsável pela BES DTVM.
O Crédit Agricole também reestruturou a área de gestão de recursos e encerrou neste ano a atividade de administração de fundos. Com isso, o total de ativos sob administração, que chegou a R$ 7 bilhões, agora está em R$ 2,5 bilhões, incluindo os recursos do private do banco. “A administração de fundos não era o principal negócio do banco e requeria investimento em TI”, diz Fábio de Aguiar Faria, diretor da gestora. O banco pretende crescer no Brasil e não descarta aquisições ou associações.
Neste ano, o segmento de private banking no Brasil acumulou crescimento de 14,22% dos ativos sob gestão até setembro, contra 15,7% no mesmo período de 2011.
Já as operações de abertura de capital, que trouxeram grande volume de recursos para essa indústria nos últimos anos, estão paralisadas neste ano. As transações de fusões e aquisições também caíram 36,4% em volume no primeiro semestre em relação a 2011, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Por: Silvia Rosa
Fonte: Valor Econômico
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