Uma onda de otimismo engolfou diplomatas e ambientalistas no sábado passado (12), quando o chanceler francês, Laurent Fabius, presidente da COP21, aprovou o Acordo de Paris. Agora, chegou a hora da verdade.
O acordo para manter o aquecimento global no limite seguro de 2°C (“bem abaixo” disso, mirando em 1,5°C) vai custar caro.
A meta de descarbonizar a economia mundial ainda neste século, ou seja, livrá-la dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), exigirá pesado investimento.
Uma década atrás, o economista britânico Nicholas Stern calculou que o custo seria de 1% do PIB mundial a cada ano (contra 5% a 20% de prejuízos com os impactos, como secas e inundações, caso nada se faça). Esse ponto percentual equivaleria hoje a uns US$ 800 bilhões por ano.
Em Paris, os países ricos renovaram o compromisso de alcançar US$ 100 bilhões anuais de ajuda aos mais pobres para enfrentar as mudanças do clima –em 2020. É só uma promessa, e mesmo ela quase 90% aquém do necessário.
O descompasso entre intenções e ações palpáveis pode ser bem exemplificado com a contribuição pretendida (as chamadas INDCs) pelo Brasil para combater a perturbação climática.
O país se comprometeu em cortar 43% de suas emissões de carbono até 2030, em relação aos níveis de 2005, e para tanto deu um papel de destaque para florestas.
A presidente Dilma Rousseff (PT) prometeu continuar reduzindo o desmatamento, que já havia caído coisa de 80% numa década.
O Planalto indicou também que conta com ganhos por meio de restaurar e reflorestar áreas desmatadas.
Árvores em crescimento retiram da atmosfera o principal gás do efeito estufa, dióxido de carbono (CO2), que por meio de fotossíntese transformam em biomassa (troncos, folhas, raízes).
Dilma fixou em 12 milhões de hectares (120 mil km², ou o equivalente a 4/5 da área do Ceará) a meta de restauração e reflorestamento.
Não apresentou, contudo, o custo para tornar realidade essa ambição.
O Instituto Escolhas de São Paulo, um recém-criado think-tank de estudos econômico-ambientais, pôs um valor nessa conta: no mínimo R$ 31 bilhões e no máximo R$ 52 bilhões.
No segundo caso, um investimento de R$ 3,7 bilhões anuais ao longo de 14 anos.
Em contrapartida, seriam criados até 215 mil empregos, no pico do esforço de restauração, segundo o estudo coordenado por Roberto Kishinami e Shigueo Watanabe Jr.
Se houvesse um plano de verdade para cumprir a INDC, isso já estaria definido. E o compromisso brasileiro tem várias outras promessas vagas, como recuperar 15 milhões de hectares (150 mil km², um Ceará inteiro) de pastagens degradadas.
Por outro lado, nem tudo depende de Brasília ou dos outros governos nacionais.
A engrenagem da descarbonização já se pôs em movimento. Investidores começam a desinvestir em combustíveis fósseis, sobretudo no carvão. E governos subnacionais também estão se organizando para isso.
Prefeitos de 83 cidades reunidas no grupo C40 trocam experiências sobre redução de carbono.
Governadores de 65 Estados e províncias, de seu lado, formam alianças como Under 2 MOU, que poderiam entregar 70% dos cortes de emissões necessários até 2030.
Entre esses governadores está Pedro Taques (PSDB-MT). Em Paris, ele anunciou a meta de Mato Grosso alcançar desmatamento ilegal zero em 2020, dez anos antes do prometido por Brasília para a Amazônia.
Custo: R$ 10 bilhões em 15 anos. Mas Taques deixou claro que, se seu governo não conseguir atrair recursos privados para investir em recuperação de matas e pastagens, o objetivo será impossível de alcançar.
Em resumo, Paris fixou o ponto final da trajetória que a economia mundial precisa alcançar.
Não entregou, porém, um mapa para chegar lá nem deixou claro quem vai pagar a troca de combustível.
Por: Marcelo Leite
Fonte: Folha de São Paulo