Economia verde ou do bem é fomentada principalmente por empreendedores jovens As empresas podem adotar a qualquer momento práticas sustentáveis, e terão de adotá-las por razões de mercados, segundo especialistas. Mas está cada vez mais frequente o número de negócios que já nascem preocupados com a origem de suas matérias primas, com a eficiência energética de suas produções, com a qualidade de vida dos funcionários e com o descarte dos excedentes.
Cresce também a oferta de serviços que não poluem o meio ambiente ou que apresentam soluções para limpá-lo. Outras iniciativas buscam dar escala econômica a atividades de comunidades carentes ou apostam na tecnologia assistiva, para a fabricação de produtos para pessoas com necessidades especiais.
Essa economia verde, ou economia do bem, é fomentada principalmente por empreendedores jovens, que nasceram quando expressões como aquecimento global já estavam no cotidiano. “Não importa se por razões ideológicas ou de mercado. O importante é que essa nova economia veio para ficar”, afirma Paulo Branco, vice-coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Representantes de quatro empresas que exemplificam esse “DNA sustentável” estiveram no seminário “Os Grandes Eventos no Alvo da Sustentabilidade”, promovido Apex-Brasil. Como disse Rachel Schettino, uma das fundadoras da Rede Asta, que foi uma das dcbatcdoras, as pessoas compram produtos mas também compram histórias.
Ela leva esse lema ao pé da letra. A Asta trabalha com materiais reciclados e introduz técnica de designers famosos na produção de comunidades pobres em dez estados brasileiros.
Neste ano, vai fornecer 6.000 almofadas que serão colocadas nos alojamentos dos atletas que vierem para as Olimpíadas do Rio. Além de usar material reciclado, todas trarão impresso, em inglês e português, como foram feitas e por quem.
Conheça as histórias das empresas nesta e na página seguinte.
“Pedalando a gente chega lá”
Cansados da rotina de um banco de investimentos e de um escritório de advocacia, dois jovens amigos de infância resolveram que era melhor fazer alguma coisa que impactasse positivamente a vidas das pessoas e que ajudasse o clima de todo o planeta. Nasceu assim a Courrieros. Entregas Ecológicas. Primeiro em São Paulo, há três anos, e agora também no Rio de Janeiro.
A ideia é simples: fazer entregas rápidas como os motoboys, mas sem poluir orneio ambiente, como uso de bicicletas.
Victor Castello Branco (do mercado financeiro) e André Biselli (advogado) começaram o negócio literalmente pedalando. Eles próprios faziam as primeiras entregas.
A sustentabilidade no caso deles serve também como estratégia de marketing para atrair grandes clientes.
Conseguiram alguns, comoNetshoes.Nikee Giuliana Flores.
O que começou com a ideia de dois sócios ganhou um terceiro: Lucas Spinardi Mello, que também começou pedalando e foi crescendo na empresa. Hoje, na Cour-rieros, são 40 funcionários. Quase todos na rua, nas bikes e em uma moto elétrica (que também não polui) para entregas mais pesadas.
Eles já estão sendo procurados para levar o modelo, por meio de franquias ou filiais, para o mercado externo. “Acreditamos que pedalando a gente chega lá”.afirma Vitor.
Produtos que contam histórias
Está muito ultrapassado associar automaticamente artesanato produzido por comunidades carentes com as chamadas “feirinhas do feio”, comuns em muitas cidades brasileiras. É possível ter qualidade e beleza e criar produtos que possam ser expostos em lojas sofisticadas pelo mundo. De quebra, dá para fomentar a economia e melhorar a vida principalmente de mulheres de baixíssima renda.
Foi com esse sonho que Rachel Schettinoe Alice Freitas criaram a Rede Asta. Elas fundem a ecologia com o social: trabalham com produtos recicláveis (sobras de produção, garrafas pet, papel etc.) e ensinam pessoas a iniciarem ou melhorarem suas produções artes anais.
A Asta exista há 10 anos e hoje conta com mais uma sócia, Rosane Rosa. São 60 grupos produtivos em 10 estados. Mantém pontos de venda em Ipanema, em Laranjeiras e dentro do Museu do Amanhã, no Rio. Trabalham ainda com e–commerce e exportam para França e Austrália.
Algumas vezes, designers famosos criam peças para a Rede, e as técnicas são passadas para as produtoras. Em outras, consultores ajudam as comunidades a darem valor comercial ao que produzem. “Se necessário, a gente sugere trocar um material. Ajudamos a precificar o produto, realizamos oficinas. Mas sabemos que além da beleza, as histórias são um ponto forte para as vendas. Com pradores se emocionam ao saber como são feitas as peças, quem foi que fez. É nosso diferencial”, diz Rachel.
Luta para beneficiar crianças
Dois nomes: Instituto Noisinho da Silva, bem regional, e The Products.com aspirações globais. Por trás de ambos, um casal mineiro: Erika Foureaux e Victor Renault Júnior. O sonho: dar condições para crianças com necessidades especiais aprenderem e brincarem nas escolas. Ela era designer de
produtos infantis de uma empresa francesa quando se deu conta que a filha do meio, Sofia, não tinha lugar adequado para sentar na escola. Se, por consequência disso, fosse excluída de atividades e brincadeiras, não iria se desenvolver como as outras crianças.
Largou tudo, colocou a cabeça para pensar e criou dois produtos: uma carteira escolar adaptada, para a sala de aula, e uma cadeira chamada ciranda, que dá à criança segurança e mobilidade para brincar no chão.
“Eu sabia que não conseguiria fazer as coisas sozinhas. Daí o”nós”. Mas queria acrescentar esse aspecto mineiro, por isso “noisinho””, afirma Erika.
O instituto faz pesquisa para novos produtos e promove oficinas em que famílias de baixa renda constroem uma versão em madeira da cadeira ciranda. Já The Products, empresa criada depois, vende carteiras e cadeiras para governos, empresas e pessoas físicas.
“Entendemos que a empresa pode mais facilmente conseguir o dinheiro para financiar o Noisinho”, diz Victor.
Uma maior fatia do mercado internacional está no radar do casal, que se emociona ao contar histórias de crianças beneficiadas. “Ganhamos mais prêmios lá fora que aqui dentro. Temos agora que ampliar os negócios. Mais dinheiro para The Products é mais dinheiro para o Noisinho, mais crianças beneficiadas. Esse éo prêmio que importa”, diz Victor.
Aromas e sensualidade
Raquel da Cruz é um exemplo de que uma (boa) ideia na cabeça somada ao destemor por enfrentar desafios pode dar bons resultados.
Formada em letras, ela trabalhava como secretária em uma multinacional quando percebeu que havia espaço no mercado para produtos esotéricos, como essências e colônias ligadas à aroma-terapia.Como marido, pensou produzi-los, mas percebeu que não se tratava de um hobby caseiro, que precisaria de um químico responsável e que. Ainda que em pequeníssimo porte, estaria criando uma indústria.
Foi estudar. Primeiro química, depois uma pós-graduação em cosmetologia. Hoje, aquela pequena ideia é a Feitiços
Aromáticos. Continua a vender produtos esotéricos, mas cresce cada vez mais no seguimento de cosméticos sensuais. “Queremos associar a ideia de sexo a saúde. Por isso, buscamos vender nossos produtos em farmácias”, afirma.
Hoje ela já exporta para America Latina, Europa e África. Além da brasilidade de suas matérias primas, usa como atrativo a sustentabi I idade: investiu na redução do consumo de água e energia elétrica e só contrata funcionários que morem perto da fábrica, localizada em Itaquera, São Paulo, região muito populosa e carente de empregos.
“A sustentabilídade está, desde sempre, no meu modelo de negócios. Isso foi fundamental numa grande venda recente que fiz para a Finlândia”, afirma.
Fonte: Valor Econômico