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Sustentabilidade dá vantagens a empresas que querem exportar

Questões socioambientais estão se tornando requisitos básicos na hora de fechar contratos; Apex-Brasil ajuda empresas a se capacitarem

Não tem escapatória: a empresa que não se preocupar com a conservação do meio ambiente e não respeitar a qualidade de vida dos seus funcionários e consumidores estará fadada ao fracasso. Isso não é uma utopia de ecologistas, mas uma realidade de mercado. Hoje, certificações de sustentabilidade são um diferencial positivo na hora de fazer negócios, principalmente com o exterior, e cada vez mais estão sendo incluídos nos requisitos básicos na hora de fechar contratos.

“Ter boas práticas de sustentabilidade já é fundamental para fazer negócios. Isso é realidade no Brasil e mais ainda em alguns outros países, como os europeus e os Estados Unidos. Muitos já impõem barreiras de importação a produtos que não comprovem o respeito a questões socio-ambientais”, afirma Adriana Rodrigues Silva, coordenadora de competitividade da Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoções de Exportações e Investimentos).

A Apex-Brasil promoveu na semana passada, durante o Rio Open, um ciclo de debates que teve como um dos temas a sustentabilidade e os negócios.

Paulo Durval Branco, vice-coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e um dos debatedores, afirma que o mundo se deu conta de que vivemos num planeta com recursos finitos e que não seria possível continuar com o modelo de apenas explorar esses recursos.

“Cada vez mais, os produtos serão escolhidos com base na forma como são produzidos, com que material, por quais pessoas. Além disso, também os grandes investidores já estão se preocupando em colocar seu dinheiro em empresas comprometidas com a sustentabilidade. Há grandes fundos de pensão internacionais que só investem em empresas com certificado de sustentabilidade”, afirma.

A FGV e a Apex-Brasil mantêm um convênio para ajudar empresas brasileiras que queiram aprimorar seus processos de sustentabilidade e atingir o mercado internacional. Chamado de Inovação e Sustentabilidade nas Cadeias Globais de Valor (ICV Global), treinou 10 empresas no ano passado. Neste ano, serão 30. Inclui desde planejamento da produção até apoio para a concretização de negócios no exterior.

Uma prova de que a sustentabilidade está na ordem do dia é a preparação para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, o maior e o terceiro maior evento esportivo do mundo, respectivamente.

A sustentabilidade foi quesito técnico básico nas compras e contratações. “Entra como rotina de compras, não exceção. É como prazo de entrega, por exemplo. Como não compramos cadeiras de três pernas, não compramos produtos que não tenham compromisso com o meio ambiente e questões sociais”, afirma Tania Braga, gerente-geral de Sustentabilidade, Acessibilidade e Legado do Comitê Rio 2016.

ÁREA DE SERVIÇOS

A preocupação com questões socioambientais não está apenas na confecção de produtos para exportação. Está também num filão ainda pouco explorado por empresários brasileiros: a exportação de serviços.

Mas também isso está mudando. Adriana, da Apex-Brasil, e Paulo, da FGV, lembram das empresas Brasil Ozônio, Terpenoil e Ambievo, que participaram no ano passado do treinamento promovido pelas duas instituições.

As empresas têm soluções para despoluição de águas e descontaminação de solo. Podem trabalhar para governos e para companhias que precisam recuperar terrenos ou fontes de água.

“No caso dessas empresas de serviços, estamos tratando da sustentabilidade de outra forma. Elas ajudam outras a alcançar uma produção sustentável ou, muitas vezes, a m itigar efeitos nocivos de uma produção passada, que pode ter contaminado um solo, por exemplo”, diz Paulo.

Especialistas e empresários concordam que é preciso acabar com o mito de que a busca pela sustentabilidade sempre encarece a produção. Em alguns casos, acontece o contrário.

Raquel Cruz, uma micro-empresária de São Paulo, é prova disso. Ela montou sua pequena empresa de cosméticos, a Feitiços Aromáticos, na zona leste de São Paulo, região com muita população e poucas oportunidades de emprego, e só contratou profissionais que morassem perto.

Preocupou-se também com a economia de água e ampliou o número de janelas para usar mais luz natural.

Com isso, atingiu objetivos ecológicos e sociais ao mesmo tempo em que reduziu custos e ganhou em produtividade.

Gasta menos com água, com luz e com vale transporte e garante maior produtividade de funcionários que chegam ao trabalho em 15 minutos, não após duas horas de transporte coletivo.

Criada em 2002, a empresa hoje exporta para a América Latina, Europa e África.

A capacitação de empresas para que atendam a requisitos de sustentabilidade está dentro de uma política brasileira de ganhar mercado internacional. Como lembrou Davi Barioni Neto, presidente da Apex-Brasil, na abertura dos seminários que aconteceram paralelamente ao Rio Open, o Brasil é a 7a economia do mundo, mas está em 25° lugar no ranking de exportadores. Se excluídas as commodities, o país cai para a 35a posição.

“As matérias primas ainda representam uma parcela muito grande no total de exportações do Brasil. Não vejo nenhum problema em exportar matérias primas, mas precisamos subir na cadeia de valores e exportar produtos com maior valor agregado. A sustentabilidade tem tudo a ver com isso. O Brasil pode usar essa bandeira para ganhar mercado, e a Apex-Brasil pode ajudar os empresários de diversas maneiras: capacitando-os para exportar, fazendo promoções comerciais (participamos de mais de mil eventos por ano) e oferecendo seus nove escritórios fora do país como incubadoras”, afirma Barioni.

“Empresas brasileiras ainda não colocam a exportação em seus business plan. É preciso mudar. A exportação ajuda até a melhorar a qualidade do produto para o mercado interno”

David Barioni Neto, presidente da Apex-Brasil

“Cada vez mais os produtos serão escolhidos baseados na forma como foram feitos e com qual material. Temos de criar modelos de negócios com inovações que atuem a favor de um planeta que tem recursos finitos”

Paulo Branco, vice-coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV

“Em um futuro próximo, ter boas práticas de sustentabilidade será fundamental na hora de se lançar no mercado. E a sustentabilidade precisa estar presente em todo o ciclo de produção”

Adriana Rodrigues Silva, coordenadora de competitividade da Apex-Brasil

Fonte: Valor Econômico

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