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O clima não espera, mas falta-nos urgência

Há poucos dias a ONU divulgou que 175 países já haviam ratificado o Acordo de Paris, adotado em dezembro de 2015. É o maior apoio já registrado a um pacto das Nações Unidas. Mas algumas nações – como Arábia Saudita e Nigéria, grandes produtoras de petróleo – não assinaram, embora seja forte a pressão no mundo todo, com o aumento da temperatura planetária e a intensificação de desastres provocados por mudanças do clima, consequência das emissões de poluentes. O objetivo central do acordo são políticas e ações para evitar que a temperatura da Terra chegue a 2 graus Celsius além do que estava no início da revolução industrial – se possível, que não ultrapasse 1,5 grau.

Já há algum tempo essas mudanças do clima passaram a fazer parte das nossas preocupações cotidianas, tantos são os problema noticiados – inundações, desabamentos, perdas de safras agrícolas, enchentes em áreas urbanas, etc. Abril de 2016 tem registrado as maiores temperaturas – na casa dos 35 graus Celsius. O recorde anterior era de 34,6 graus Celsius em abril de 1998. Mas agora se prevê que os termômetros poderão subir ainda mais.

Países responsáveis por 55% das emissões preveem, entre outros dramas, que com mais 2 graus na temperatura certamente ilhas poderão ser varridas do mapa, segundo o conceituado consultor da revista New Scientist Fred Pearce (fevereiro e março 2016). E Edward O. Wilson, autor de estudos respeitados, agora no livro Half-Earth (Liveright) afirma que mais ocupação humana pode levar a extinções em massa e danos irreparáveis à biosfera.

Segundo alguns cientistas, já seria impossível ficarmos abaixo de 1,5 grau. Mas há outras visões. Joeri Rogelj, do Instituto Internacional de Análises Aplicadas, na Áustria, por exemplo, é dos que pensam ser possível não ultrapassar 1,5 grau, retirando desde já da atmosfera parte dos poluentes que os seres humano ali colocaram. Também seria indispensável reduzir a zero até 2050 as emissões, limitando-as a 800 gigatoneladas cumulativas entre hoje e a metade do século. E manter as emissões em zero depois de 2050 seria suficiente para conter a temperatura abaixo de 2 graus. Para baixar até 1,5 grau seria preciso remover da atmosfera 500 gigatoneladas.

Há quem proponha até, para controlar emissões, desde plantar maciçamente na região do Saara até criar formatos de agricultura nos oceanos. Será viável, será suficiente? – perguntam outros especialistas, lembrando que desde o início da revolução industrial aumentamos a concentração de poluentes na atmosfera, de 280 partes por milhão (ppm) para 400. Em consequência, no ano passado as estações meteorológicas registram um aumento da temperatura global em 1 grau Celsius acima da que vigorava nos tempos pré-industriais. O Painel do Clima da ONU (IPCC), que trabalha com 430 partes por milhão – que correspondem a 1,5 grau –, acha que com programas eficazes poderíamos chegar ao fim deste século com esse nível. Argumenta que as geradoras de energia, juntamente com fontes industriais, já baixaram suas emissões para os níveis de 2013, embora a economia global tenha crescido 6%.

Cientistas que alimentam esperanças, como os do Tyndall Centre, da Universidade East Anglia, do Reino Unido, lembram algumas causas. Primeiro, a China está reduzindo seu consumo de carvão, por causa da poluição urbana; e a contribuição do carvão para geração de energia nos Estados Unidos encolheu de 53% para 35% em cinco anos. Segunda causa: os investimentos em energias renováveis hoje são maiores, globalmente, que os investimentos em usinas movidas a combustíveis fósseis – e podem crescer mais. Em terceiro lugar, a eficiência energética continua a aumentar na maioria dos lugares. A universidade afirma que as emissões podem ainda aumentar, mas estão próximas do pico insuperável, com as políticas já vigentes na China, nos Estados Unidos e na União Europeia.

Uma das dificuldades maiores para chegar a níveis mais altos está nos sistemas de transportes. A solução mais provável, diz a New Scientist, estaria em veículos elétricos, que exigirão baterias mais eficientes. Muitos cientistas ridicularizam, entretanto, projetos de armazenar em certos locais as emissões retiradas da atmosfera. Um programa para armazenar 500 gigatoneladas de emissões custaria 270 trilhões de dólares e consumiria um quarto do suprimento mundial de energia.

De qualquer forma, as soluções terão de ser urgentes. Na revista Eco 21, Robert Glasser, que representa a ONU em negociações sobre clima, afirmou que no ano passado 92% dos 98,6 milhões de pessoas afetadas por 346 desastres “enfrentaram fenômenos como secas e enchentes muito fortes no clima de todo o planeta”. Uma seca de três anos e o desmatamento maciço em florestas na Nicarágua nas últimas décadas secaram a maioria das fontes hídricas superficiais (Eco-Finanças, 11/4). Os padrões de circulação das águas no Sul do Oceano Atlântico estão sofrendo transformações que poderão ter consequências muito fortes no clima em todo o planeta, noticiou este jornal no dia 17 último, relatando pesquisas de um grupo de cientistas de 17 países.

Chega-se ao Brasil. O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) alerta que o País precisa reduzir o desmatamento em 87% até 2025, em relação a 2014, para cumprir a sua meta de corte de emissões que causam o efeito estufa. Em 2030 será necessário zerar as emissões por desmatamento e reduzi-las em outros setores para atingir a meta proposta internacionalmente. Nas projeções para 2025 o País emitirá 1,51 bilhão de toneladas de CO2 (9,6% mais do que as metas previstas internacionalmente (1,38 bilhão).

Alertas não faltam. Faltam recursos e ações governamentais. E faltam programas para levar a população a cumprir a sua parte.

Por: Whashington Novales, jornalista
Fonte: O Estado de São Paulo

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