Finanças. Apesar de o resultado líquido ter caído quase 10% no trimestre, Itaú lucrou R$ 5,2 bilhões e teve o melhor desempenho entre os bancos privados; inadimplência subiu, com especial atenção para os calotes das pequenas empresas e do setor de óleo e gás Lucro em queda, carteira de crédito retraída, inadimplência em alta. Os resultados negativos divulgados ontem pelo banco Itaú refletiram diretamente na Bolsa e as ações do banco caíram 5,76% em um único pregão. Os investidores reagiram ao lucro do primeiro trimestre menor que o do ano anterior – algo que não acontecia desde 2012. Mas, mesmo com esse mau humor generalizado, o lucro do banco, de R$ 5,2 bilhões, foi o maior entre os grandes bancos privados.
A queda de quase 10% no lucro líquido se deveu em boa parte à fraca economia, segundo informou a instituição. A demanda por crédito está menor, o banco está mais exigente na concessão de empréstimos e os calotes aumentaram. Junto com os calotes, cresceram também as provisões para devedores duvidosos. São essas provisões que afetam diretamente o resultado – e, neste primeiro trimestre, elas aumentaram 31,1%. Além disso, a recuperação de crédito foi 44% menor.
Desde o último trimestre de 2014, quando a Operação Lava Jato começou a afetar mais fortemente a capacidade financeira das empresas, o Itaú vem aumentando suas provisões para os calotes. De janeiro a março, elas chegaram a R$ 7,2 bilhões.
A instituição não revela quem são seus clientes, mas é de conhecimento público que um dos maiores problemas dos grandes bancos é a Sete Brasil, empresa criada para a construção de sondas para exploração de petróleo do pré-sal.
A Sete entrou em recuperação judicial na semana passada e somente o Itaú tem um crédito a receber de R$ 1,9 bilhão da companhia. Quando uma empresa entra em recuperação, imediatamente os bancos fazem provisões para perdas, podendo chegar a 100% do que foi emprestado.
O diretor de relações com investidores, Marcelo Kopel, não quis comentar sobre a Sete Brasil. Disse apenas que o banco vem fazendo reservas há cinco trimestres consecutivos. Neste trimestre, houve R$ 1 bilhão em novas provisões. Entre os setores que puxaram o movimento, Kopel destacou o de óleo e gás.
Na semana passada, o Brades-co já tinha divulgado resultados que, em parte, foram afetados pela Sete Brasil. O banco fez provisão de R$ 868 milhões para um único crédito que, segundo analistas, pertencia à Sete.
Crédito. Segundo os analistas do banco Goldman Sachs, o Itaú mostrou um “fraco conjunto de resultados”, com “fraca qualidade”, no primeiro trimestre. Eles mantiveram a recomendação de “venda” para as ações do banco. Para analistas, a pressão sobre resultados vinda de gastos com provisões e crédito enfraquecido deve continuar se intensificando.
O próprio Itaú não se mostra otimista em relação ao ano de 2016.0 banco diz que o crescimento do crédito deve se manter na faixa mais baixa das previsões já feitas pela instituição. O Itaú estabeleceu para o ano um resultado para o crédito que pode variar de uma redução de 0,5% a uma expansão de 4%.
Entre linhas de financiamento do banco, os créditos consignado e imobiliário para pessoas físicas ainda apresentaram crescimento. Para as empresas, a queda foi generalizada, atingindo praticamente todos os setores e portes de negócios. As pequenas e médias empresas são as que mais preocupam em termos de inadimplência. Neste grupo, os atrasos superiores a 90 dias cresceram 0,7 ponto porcentual em três meses, chegando a 4,3%.
Na média geral, a inadimplência dos clientes do Itaú ficou em 3,9%, 04 ponto maior do que dezembro. Segundo Kopel, a metade do crescimento se explica pela queda do tamanho da carteira de crédito e a outra metade pelo enfraquecimento da economia.
Compras. O Itaú também está focado na integração do chileno CorpBanca, segundo o diretor de relações com investidores. Ao ser questionado sobre o interesse do banco em ativos como o do Citi na América Latina, ele disse que o banco estápriorizando a integração. “Quanto a aquisições, estamos muito focados em implementar a fusão no Chile, para podermos extrair benefícios tanto no Chile quanto na Colômbia”, afirmou Kopel. / COLABOROU ALINE BRONZATI
Por: Josette Goulart
Fonte: O Estado de São Paulo