Cerca de 10 milhões de abelhas, de 200 colmeias e 9 apiários, morreram no início do mês na região de Porto Ferreira (SP). As mortes começaram a ocorrer pouco depois que a Usina Ferrari – em cujo site se lê “Preservação do Meio Ambiente é a nossa Prioridade!” – fez uma pulverização aérea de agrotóxicos num canavial da região, como relata o apicultor Wanderley Fardin. “Eu mesmo passei mal”, disse ele, que registrou boletim de ocorrência e pretende cobrar na Justiça os prejuízos, estimados em R$ 250 mil.
Enquanto isso, no Recinto das Abelhas, sala criada com a parceria da Syngenta no Museu do Instituto Biológico de São Paulo, crianças e adultos assistem a desenhos animados “educativos” que “ensinam”: a morte e o desaparecimento das abelhas é um fenômeno do hemisfério Norte, e uma das razões porque ocorre talvez seja o “uso incorreto de defensivos” agrícolas. Nenhuma palavra sobre as mortes que acontecem no Brasil desde 2007, em vários estados.
A principal razão do desastre, contudo, afirmam estudiosos, é a classe de agroquímicos denominada neonicotinoides: clotidianidina e imidacloprida, fabricados pela Bayer; e tiametoxan, fabricado pela Syngenta. “Temos situações de toxicidade aguda, em que as abelhas morrem de uma vez, logo após a aplicação do agrotóxico”, adverte o geneticista David De Jong, doutor pela Universidade de Cornell (EUA) e professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP). “Mas há outras em que doses subletais podem fazê-las perder o rumo e não voltar ao ninho”.
Ele conta que doses baixas de inseticidas também enfraquecem o sistema imunológico das abelhas: “O fato é que, com os novos inseticidas do grupo dos neonicotinoides, estamos definitivamente perdendo muitas abelhas Apis mellifera e espécies de abelhas nativas”.
Parceria com a UNESP O Recanto das Abelhas foi inaugurado pelo governador Geraldo Alckmin em maio de 2015. Na porta de entrada, o logotipo da Syngenta merece o mesmo espaço que a Unesp de Rio Claro, parceira na sala. A multinacional suíça fabrica agroquímicos e sementes transgênicas. Criada a partir da fusão da divisão de agroquímicos das farmacêuticas AstraZeneca e Novartis, encontra-se hoje em outro processo de fusão, por US$ 43 bilhões, com a estatal chinesa ChemChina.
Por: Inês Castilho
Fonte: De Olho nos Ruralistas