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Alto índice de poluição faz a China lançar pacote para ‘o céu voltar a ser azul’

Foto: Imagem de 21 de fevereiro de 2017 mostra moradores de Pequim, na China, caminhando em direção a uma estação de metrô, sob céu cinzento de poluição AP Photo/Andy Wong

Foto: Imagem de 21 de fevereiro de 2017 mostra moradores de Pequim, na China, caminhando em direção a uma estação de metrô, sob céu cinzento de poluição AP Photo/Andy Wong

No mesmo dia em que anunciou ao mundo que seu país vai crescer “só” 6,5% em 2017, o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, fez uma promessa aos seus compatriotas: se depender dos esforços governamentais, o céu da segunda maior economia do mundo vai voltar a ser azul novamente. Aparentemente, a anunciada freada no crescimento – 0,2% a menos do que no ano passado – está contando com as medidas que serão implementadas para livrar os chineses de seus piores momentos de poluição atmosférica.

Nos últimos tempos, segundo reportagem do jornal britânico “The Guardian”, mais de 1 milhão de mortes prematuras foram registradas anualmente por causa da forte poluição do ar, sobretudo nas grandes cidades chinesas.Por conta disso, Li admitiu, quando falou durante a abertura do Congresso Nacional do Povo ontem (5) em Pequim, que seu país estava enfrentando uma grave crise ambiental que tem deixado cidadãos chineses desejando muito algum tipo de solução para o problema.

Entre as medidas anunciadas estão o corte do uso de carvão, a modernização das usinas a carvão, a redução das emissões dos veículos, o incentivo ao uso de carros limpos e a punição de funcionários públicos que ignoram os crimes ambientais ou a poluição atmosférica. E vai ter monitoramente 24 horas em pontos chave de poluição, nas indústrias, para reforçar e punir quem não obedecer a ordem de baixar as emissões.

“Todos devem combater a poluição atmosférica, e o sucesso depende da ação e do compromisso de cada um. Se toda a sociedade continuar tentando, teremos mais e mais céus azuis a cada ano que passar”, disse ele.

Já que muitas empresas estatais são líderes em indústrias que produzem a poluição, como aço, carvão e energia, vai ser preciso afinar o discurso dos dirigentes com ação concreta.

Segundo Tom Phillips, correspondente da China para o “The Guardian”, no entanto, no ano passado o primeiro-ministro chinês falou mais ou menos a mesma coisa, mas parecia mais confiante. É compreensível o desânimo do dirigente. Mesmo depois da campanha lançada no ano passado, a presença de uma partícula no ar chamada PM2.5, que causa câncer de pulmão, asma e doenças cardíacas, aumentou tanto a ponto de se criar uma nova figura urbana na China, os chamados “refugiados da poluição atmosférica”. Dezenas de milhares de chineses fugiram do Norte da China, onde ficam Pequim e outras cidades já bastante poluídas, em busca de um ar mais limpo em outro canto do país.

A situação da China exige cuidados extremos e não há uma única, mas várias possibilidades de soluções. De Pequim, os jornalistas Meng Meng e Josephine Mason assinam uma reportagem no site da agência Reuters onde mostram que uma das tarefas impostas pelos dirigentes chineses para tentar acabar com o problema é, a partir de outubro, trocar caldeiras a carvão e sistemas de aquecimento em pelo menos 1,2 milhão de domicílios das 28 de suas cidades mais frias do Norte, que passariam a funcionar com gás ou eletricidade. Os dois repórteres tiveram acesso a um documento, datado em 17 de fevereiro, com esta e outras tarefas de igual magnitude.

“Será preciso dobrar a capacidade de armazenamento subterrâneo de gases poluentes, construindo milhares de gasodutos para transportá-los do Oeste para as cidades do Leste e instalando estações de bombeamento em aldeias rurais. A velocidade com que o projeto passou de um projeto, emitido em janeiro, em uma ordem, sugere que o governo está determinado a resolver o problema a qualquer custo. A questão da poluição tornou-se uma batata quente política ”, escrevem os repórteres.

Não faz muito tempo, na província de Clampdown, em Chengdu, policiais anti-motim agiram contra manifestantes que, legitimamente, queriam ter de volta seu direito de respirar sem precisar usar máscaras. O protesto começou depois que a cidade foi invadida por uma nuvem fortíssima de fumaça e alguns dos moradores decidiram pôr máscaras até nas estátuas para chamar atenção das autoridades. Vários foram presos, alguns denunciaram que nem estavam protestando, mas apenas usando a máscara necessária quando foram levados para a prisão.Autoridades locais enviaram policiais para inspecionarem canteiros de obras e churrascos ao ar livre, mas alguns usuários das redes sociais afirmam que a forte poluição atmosférica é atribuída principalmente a um projeto petroquímico local.

A Pengzhou Petroquímica Plant, localizada a 25 quilômetros de Chengdu, está entre as 78 empresas-chave listadas como principais fontes de poluição do ar. Assim que a poluição começou a piorar na cidade, dez policiais foram deslocados para a fábrica, a fim de monitorar a descarga de poluição. Mas o governo nega que o problema venha de lá.

Em dezembro do ano passado, um alerta de poluição que durou cinco dias causou fechamento de fábricas e de escolas na capital chinesa e em outras cidades do Norte, onde a capacidade de visão, por causa da fumaça, era de apenas um quilômetro. Muitas crianças foram levadas para hospitais com crises fortes de asma, com máscaras faciais. A cena é cruel e nos faz refletir, de verdade, sem clichês, sobre o estado do mundo que as crianças de hoje vão herdar, não só na China como em outros tantos países.

De qualquer maneira, a ideia é agir, investindo em inovações tecnológicas que permitam limpar o céu e não embaçar ainda mais a relação entre os chineses e seus governantes. Mas isso não vai ficar barato, e seria muito bom que outras nações prestassem atenção a esses números. Segundo cálculos feitos por Guo Zihua, chefe de um departamento de desenvolvimento rural na prefeitura de Pequim, entrevistado para a Reuters, só para converter as caldeiras que atendem a cerca de 300 mil moradores para funcionar com gás ou eletricidade em vez de carvão, serão investidos 10 bilhões de yuans (US $ 1,45 bilhão). Províncias mais pobres vão ter desafios ainda maiores, é claro.

Quando os estudiosos de um modelo econômico, social e ambiental mais seguro para a humanidade falam sobre uma relação “ganha-ganha”, eles estão também se referindo a esse prejuízo. Se os negócios forem tocados com mais consciência, se o modelo de produção reduzir a ganância e o desenvolvimentismo atingir um nível razoável e igualitário, esse dinheiro usado para desfazer o mal servirá para outros projetos que, de fato, possam melhorar a qualidade de vida das pessoas. É onde todos ganham. Mas, pelo menos até agora, fica difícil apostar num cenário tão otimista.

Amelia Gonzalez, Jornalista, editou o caderno Razão Social, no jornal O Globo, durante nove anos, e nunca mais parou de pensar, estudar, debater e atualizar o tema da sustentabilidade, da necessidade de se rever o nosso modelo de civilização.

Fonte: G1

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