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Debate climático domina G20 e faz de Trump antagonista na cúpula

Quando se reunirem na cidade alemã de Hamburgo nesta sexta (7), na cúpula do G20, líderes das principais economias do mundo vão discutir outra cidade: Paris.

O Acordo de Paris, assinado em 2015 na capital francesa por 195 partes, deve dominar os debates do fórum global. Enfraquecido pela crise política, o Brasil não será um dos protagonistas.

Manifestantes protestam contra o G20 em frente à Prefeitura de Hamburgo, que recebe a cúpula do grupo em julho

Manifestantes protestam contra o G20 em frente à Prefeitura de Hamburgo, que recebe a cúpula do grupo em julho

Dando o tom do debate, a Universidade de Oxford publica nesta quinta seu relatório sobre a mudança climática, alertando para os riscos trazidos à saúde. O texto foi redigido pelo EMS (Simpósio de Mercados Emergentes).

O brasileiro Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade, faz parte do grupo de pesquisadores que assinam o texto. “Já sabíamos que havia impacto na saúde, mas é em uma magnitude maior do que imaginávamos”, ele afirma em entrevista à Folha.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 23% das mortes no mundo estão relacionadas a fatores ambientais, como a poluição do ar e da água, cuja redução poderia ajudar na prevenção de 30% das doenças cardiovasculares e 20% dos cânceres.

Cientes das consequências da mudança climática, os signatários do Acordo de Paris, principal iniciativa para frear a elevação da temperatura do planeta, firmaram o compromisso de manter o aquecimento da Terra abaixo de 2ºC em relação à era pré-industrial até o fim do século, tentando limitá-lo a 1,5ºC.

Mas o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que o país vai deixar o tratado, assinado por seu antecessor, o democrata Barack Obama. Trump será questionado pelos demais governantes em Hamburgo, que já sinalizaram não ter intenção de renegociar o acordo –o americano alega que o teor do tratado é desvantajoso a seu país.

A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou repetidas vezes que esse será o enfoque da cúpula, e a União Europeia deve se alinhar à China, que busca maior protagonismo internacional em ambiente.

Mas Trump pode receber o apoio de outros países, como a Arábia Saudita, da qual os EUA têm se aproximado.

Há dúvidas ademais sobre as posições da Rússia e da Indonésia, também no G20.

Kalache, que critica o subsídio de US$ 5 trilhões ao ano para combustíveis fósseis, como diesel, afirma que a queima desses materiais tem enorme impacto na saúde.

“O foco dos líderes globais é, muitas vezes, o custo imediato, sem pensar no custo acumulado”, diz o médico.

“Os governos vão precisar tratar essas pessoas, a produtividade vai cair, haverá impacto social.”

BRASIL

O brasileiro diz que os países que liderarem a corrida tecnológica para a obtenção de fontes limpas de energia vão ser favorecidos –daí a perplexidade, inclusive dentro dos EUA, com a decisão de Trump.

Kalache, que trabalhou na Organização Mundial da Saúde entre 1994 e 2008, lamenta que o Brasil, no passado um protagonista nesses temas, esteja escanteado.

“Há dez anos, os países queriam saber qual era a posição brasileira para considerar as suas. Hoje ninguém se preocupa com o representante do Brasil”, diz. “É uma visão antiglobalizante.”

Um grupo de organizações de defesa do ambiente, lideradas pelo Oil Change International, publicou nesta semana um outro relatório sobre o impacto do clima, também para a cúpula do G20.

O texto diz que as nações do G20 dão quatro vezes mais financiamento público a combustíveis fósseis do que a fontes renováveis.

Um dos casos mais extremos é o da China, que financiou combustíveis fósseis com US$ 13,5 bilhões (R$ 44 bilhões) entre 2013 e 2015, mas entregou apenas US$ 85 milhões às energias limpas.  A Alemanha, por sua vez, investiu US$ 3,5 bilhões em fósseis e US$ 2,4 bilhões em renováveis.

Editoria de Arte/Folhapress

Por: Diogo Bercito
Fonte: Folha de São Paulo

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