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Doria demite secretário do Verde, o quarto a cair em 8 meses

Gilberto Natalini (PV) enfrentava atritos com a Prefeitura por questões técnicas; Doria buscava espaço para abrigar o PR no primeiro escalão municipal

Atritos envolvendo projetos e fiscalizações ambientais na cidade e uma negociação política feita pelo prefeito João Doria (PSDB) para acomodar o PR na Prefeitura de São Paulo derrubaram o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Gilberto Natalini (PV), que deve deixar o cargo na próxima terça-feira, 22, e reassumir o mandato de vereador na Câmara Municipal.

Procurado, Doria afirmou que “tem profundo respeito, admiração e amizade pessoal com Natalini”. O secretário não quis comentar a demissão, a quarta envolvendo integrantes do primeiro escalão da Prefeitura em pouco mais de oito meses de gestão.

O Estado apurou que um dos atritos envolve o licenciamento ambiental de empreendimentos na cidade, sob o guarda-chuva da Secretaria do Verde. Segundo aliados de Natalini, o secretário denunciou à Controladoria-Geral do Município (CGM) a existência de fraudes nas licenças para viabilizar edificações em desacordo com a lei. A medida teria desagradado empresas do setor imobiliário.

Natalini apresentou a queixa a Doria e teria ouvido como resposta que o caso será apurado pelo novo controlador Guilherme Mendes, que assumiu o lugar de Laura Mendes, procuradora que deixou o cargo também por atritos. Segundo o Estado apurou, Doria estava descontente com o trabalho de Natalini porque ele não havia conseguido resolver o problema de carpinagem em áreas verdes da cidade. A pessoas próximas, Natalini já havia responsabilizado o Tribunal de Contas do Município (TCM), que suspendeu a licitação para contratar o serviço em março.

Corredor

Outro ponto de desgaste na relação entre o secretário e o prefeito foi a criação do chamado “Corredor Verde” na Avenida 23 de Maio. O plantio de mudas nas paredes da avenida foi feito usando regras de um Termo de Compensação Ambiental (TCA) feito na gestão passada, de Fernando Haddad (PT), para criar muros verdes ao redor do Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão. A medida, criticada por ambientalistas, havia sido combatida por Natalini, vereador na época, que chegou a ingressar ações judiciais contra essas paredes.

Natalini seguia entendimento de ambientalistas e engenheiros que afirmam que essas ações não compensam os cortes de árvores feitos por incorporadoras para erguer prédios uma vez que as plantas instaladas nos muros não fazem a mesma captura de carbono que árvores. Ainda assim, Natalini teve que se submeter ao modelo a pedido de Doria, que inaugurou o corredor verde da 23 neste mês, no mesmo trecho onde havia apagado grafites e causado polêmica no início da gestão. O desgaste aumentou na semana passada, quando o prefeito informou ao secretário que o corredor verde da 23 não seria o único da cidade.

Política. Outro fator que pesou para a queda de Natalini foi o fato de que a gestão Doria já vinha buscando abrir espaços no secretariado para abrigar outros partidos aliados, tanto o PSB, sigla que ficou sem cargo após a saída de Eliseu Gabriel em julho, quando o PR, partido que tem quatro vereadores na Câmara e apoiou o ex-prefeito Fernando Haddad na eleição contra Doria em coligação com o PT.

A adesão do PR ao governo Doria foi selada em almoço no gabinete do prefeito no dia 1.º de agosto, no qual participaral o presidente nacional da sigla, Antonio Carlos Rodrigues, o presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), e o secretário de governo, Julio Semeghini. O encontro não constou na agenda oficial do prefeito daquele dia.

Na reunião, Doria disse que fará uma mini-reforma no secretariado para abrigar aliados e prometeu uma secretaria ao PR. Neste sábado, 19, um almoço com os vereadores da base aliada deve definir qual pasta será dada ao partido — além do Verde, estão sendo cogitadas as secretarias Esporte, Assistência Social e Trabalho e Empreendedorismo.

Natalini é o quarto secretário de Doria a sair em pouco mais de oito meses de gestão. Todos são vereadores da capital. Em abril, o prefeito demitiu Soninha Francine (PPS) da Secretaria de Assistência Social alegando perfil incompatível com a função. Em maio, Patrícia Bezerra (PSDB) pediu demissão da pasta de Direitos Humanos por discordar da ação da Prefeitura na Cracolândia. Em julho foi a vez do vereador Eliseu Gabriel (PSB) deixar a Secretaria do Trabalho alegando questões partidárias.

Por: Bruno Ribeiro, Fabio Leite e Pedro Venceslau
Fonte: O Estado de São Paulo

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