Mais de 8 milhões de pessoas morrem anualmente por causa da poluição do ar, mostra Resolução lançada nesta terça-feira (27) pela Organização Mundial da Saúde. No Brasil, a poluição atmosférica será a causa de 250 mil mortes nos próximos 15 anos, 25% delas somente na cidade de São Paulo.
Os delegados dos países reunidos em Bruxelas na 68ª Assembleia da Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovaram uma resolução que chama a atenção para as graves consequências da poluição atmosférica para a saúde pública e a economia, especialmente nos países mais pobres. Os números são alarmantes: cerca de 3,7 milhões de mortes são atribuídas à contaminação lançada ao ar livre, enquanto 4,3 milhões de mortes são resultantes de contaminação de ambientes mal ventilados.
O documento faz uma chamada à OMS para fortalecer sua capacidade e para os países redobrarem seus esforços de redução dos impactos da poluição do ar. A Resolução também reconhece a relação complexa entre a melhoria da qualidade do ar e a redução das emissões de gases que causam as mudanças climáticas.
No Brasil, um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo para o Instituto Saúde e Cidadania mostra que a poluição atmosférica será a causa de 250.000 mortes nos próximos 15 anos, 25% delas somente na cidade de São Paulo. A concentração de material particulado no ar é proveniente em 90% de veículos motorizados e vai levar 1 milhão de pessoas a se hospitalizarem, causando gastos públicos na casa de R$ 1,5 bilhão.
No Rio de Janeiro, os números são igualmente ruins. A mortalidade atribuída à poluição do ar no período entre 2006 e 2012 ficou em 31.194 mortes. Já as internações alcançaram 65.102 na rede pública de saúde. Como resultado, houve um gasto público na ordem de R$ 82 milhões em internações que poderiam ter sido evitadas caso os níveis de poluição não fosse tão altos.
Em outros países em desenvolvimento os números são ainda piores. Índia e China disputam o título de países com maiores níveis de poluição atmosférica no mundo. Um estudo da OMS indicou que a Índia sozinha tem 13 das 20 cidades mais poluídas do mundo. Outro estudo, da Universidade de Chicago, mostrou que os 660 milhões de indianos mais expostos à contaminação atmosférica poderiam viver três anos mais se o ar que respiram atendesse pelo menos aos padrões nacionais.
A combustão de diesel e do carvão estão entre as principais causas da contaminação do ar. O transporte motorizado, por sua vez, corresponde a cerca de metade das mortes prematuras causadas pela emissão no ar de material particulado ambiental nos países da OCDE. A energia proveniente da queima de carvão é uma das principais fontes de dióxido de carbono, o principal gás de efeito de estufa responsável ??pelas alterações climáticas.
“A resolução da OMS chega em um momento crucial para a humanidade e é importante para chamar a atenção do público e dos governos para a necessidade imperiosa de combater as causas da poluição atmosférica conjugada com os esforços para evitar as mudanças climáticas”, diz a Dra. Mariana Veras, Pesquisadora do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP. “Trata-se de salvar milhões de vidas que se perdem prematuramente por doenças que poderiam ser evitadas facilmente e, ao mesmo tempo, evitar o enorme impacto econômico que afeta todos os países, mas particularmente os mais pobres”.
O físico e especialista em energia Delcio Rodrigues explica que vários dos elementos causadores da poluição atmosférica são os mesmos que provocam as mudanças climáticas, como por exemplo o CO2 e outros gases de efeito estufa emitidos pelo uso de combustíveis fósseis. Ele chama a atenção para o fato de que são os mais pobres, tanto nos países desenvolvidos como naqueles em vias de desenvolvimento, que sofrem mais os efeitos da poluição
“Nos países mais pobres, inclusive, as doenças e mortes causadas pela poluição atmosférica estão já tão difundidas que acabam afetando a todas as classes sociais”, destaca Delcio. “Contribui para isso o temor de muitos governos de elevar os custos de monitoramento da qualidade do ar e de implantação de medidas de contenção e a falta de vontade política de tomar as medidas necessárias para impedir esta catástrofe.”
A própria OMS destaca o fato de que são necessárias medidas integradas em todos os níveis de governo, do local ao nacional, além de definições e acordos no âmbito internacional. Cortar as emissões do transporte urbano, por exemplo, vai envolver prefeitos, planejadores locais e políticas nacionais trabalhando coordenadamente para investir em fontes de energia renováveis e que ao mesmo tempo tenham baixa emissão de poluentes.
“Está nas mãos dos governos, em seus diversos níveis, tomar as ações necessárias para salvaguardar a vida de seus cidadãos, evitando custos hospitalares e mortes desnecessárias que, além de causar sofrimento, comprometem o futuro dos países e comunidades”, diz Delcio Rodrigues. “A OMS tem padrões claros para a emissão de partículas causadoras de poluição do ar, que não são seguidas por muitos países e cidades tanto nos países em desenvolvimento, como nos ricos.”
Os países tem este ano uma oportunidade preciosa de partir para a ação e proteger a vida e o futuro de seus cidadãos na medida em que as Nações Unidas finalizam, em setembro, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o mundo se prepara para a Conferência do Clima, em Paris, no fim do ano. No âmbito nacional esta conjuntura abre também a porta para conversas e decisões sobre soluções concretas e relevantes para a vida das cidades e comunidades, como um planejamento urbano mais verde, uso de energia mais limpa, códigos que estimulem construções mais eficientes e seguras, entre outras medidas urgentes e necessárias.
Mais informações
* Há um mês a OMS lançou um relatório mostrando que a poluição do ar custa às economias europeias nada menos do que US$ 1,6 trilhão por ano em doenças e mortes. O montante é quase equivalente a um décimo do produto interno bruto (PIB) de toda a União Europeia em 2013. Foram aproximadamente 600.000 mortes prematuras causadas pela poluição do ar na UE em 2010.
* Na comparação com os padrões de poluição atmosférica estabelecidos pela OMS e pelos Estados Unidos e Europa, o Brasil está bem atrás, com os parâmetros nacionais tendo sido estabelecidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) ainda em 1990. Os parâmetros de São Paulo, estabelecidos em 2013, são mais estritos, mais ainda assim distantes dos parâmetros da OMS.
Acesse aqui a resolução na íntegra
Fonte: Envolverde